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Enem: benefícios dos exercícios físicos na reta final

Atividade física ajuda a aguentar as longas horas sentado fazendo a prova, a melhorar a concentração e a diminuir o estresse dos estudantes. Psicólogo e médico do esporte explicam.


Daqui a menos de duas semanas, no dia 21 de novembro, acontece o primeiro dia de provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2021, com a conclusão marcada para 28 de novembro. Depois de um ano ou mais se preparando, não é de se estranhar que alguns estudantes comecem a sentir uma cobrança e uma pressão nessa reta final, que inclui o sonho de entrar para uma faculdade pública. Entre as muitas estratégias para ajudar os candidatos a lidarem com as emoções está a prática de exercícios físicos e esportes. Afinal, esse é um dos pilares da saúde mental e pode ajudar a controlar o estresse e a ansiedade. Fora que essas atividades ainda melhoram o condicionamento físico, ajudando o corpo a estar mais preparado para essa maratona de provas. Para entender os benefícios dos exercícios físicos para quem fará o Enem, conversamos com o psicólogo Renato Caminha e o médico do esporte Páblius Staduto Braga.


Principais benefícios:

  • Aumento da sensação de bem-estar e relaxamento;

  • Alívio do estresse e da ansiedade;

  • Melhora da circulação sanguínea, favorecendo a oxigenação do cérebro e a capacidade de concentração;

  • Liberação de hormônios que promovem prazer e bem-estar, como serotonina e dopamina, além de endorfinas e ocitocina;

  • Maior consciência corporal, que pode ajudar a reconhecer quando bate o cansaço e é preciso dar uma pausa para o corpo e a mente se recuperarem;

  • Melhora do condicionamento físico e do tônus muscular, ajudando a reduzir problemas mecânicos e dores nas costas, por exemplo, o que impede que incômodos e dores atrapalhem a concentração durante as provas, que duram cinco horas e meia (no dia 21, que inclui a redação) e cinco horas (no dia 28).

Mestre em Psicologia Social e da Personalidade pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), Renato Caminha comenta que o conceito da saúde mental é multifatorial. Além de um trabalho para lidar com as emoções, o indivíduo precisa também de exercícios físicos, sono de qualidade e alimentação balanceada, podendo ser beneficiado ainda por práticas meditativas e relaxamento. Por isso, o psicólogo comenta que a não dá para o estudante focar apenas na preparação para a prova, que é algo meramente cognitivo, e se esquecer dos demais fatores envolvidos na saúde mental e que ajudam a regular as emoções.


– O esporte é elemento muito importante para o equilíbrio da saúde mental, aumentando, por exemplo, a produção de endorfinas e melhorando a captação de serotonina. A gente costuma dizer que acontece uma faxina neuroquímica e bioquímica quando se faz exercícios físicos – explica Caminha, acrescentando que, no caso de quem vai passar pelas provas do Enem no final do mês, essa prática tende a reduzir o estresse e proporcionar relaxamento. – Outro benefício importante é a socialização. O convívio com outras pessoas com as quais tem interações gratificantes libera a ocitocina, também chamada de hormônio do amor, que é um redutor do estresse e ajuda a acalmar o cérebro.


No caso de quem está estudando de forma intensa, como para participar de concursos para o Enem, o médico do esporte argumenta que os exercícios físicos ajudam a sair dessa rotina. E isso está longe de ser um aspecto negativo. Sim, é importante estudar e se preparar para as provas. Porém, ter um momento para descansar a cabeça também é fundamental para quem está se preparando para exames como o Enem. Para tanto, se a pessoa opta pela inclusão da prática de esportes e exercícios físicos na rotina, especificamente, os benefícios são inúmeros.


– O condicionamento físico melhora a circulação e ajuda a aumentar a capacidade de concentração. A fadiga também acaba chegando menos, se a pessoa faz exercícios físicos, em vez de ficar só estudando. O exercício também ajuda a criar consciência corporal e a mostrar que o corpo e a mente têm um limite, uma hora para descansar mesmo – explica Braga, emendando que identificar esses momentos em que uma pausa é necessária também ajudará a aumentar a qualidade das horas de estudo. – Ao fazer exercícios, é possível reconhecer quando a hora de parar é inadiável. Mas a pessoa vê o lado positivo disso, e não como uma distração do momento em que deveria estar estudando. Ela terá mais disposição depois de uma hora descansando ou para acordar no dia seguinte, por causa do exercício físico. E quando tira o componente fadiga da frente, consegue ser mais objetiva e se concentrar melhor.


Como reitera Páblius Staduto Braga, quando o indivíduo faz um trabalho de fortalecimento muscular, melhora a sustentação do corpo e reduz as dores na coluna e articulações. Assim, além de contribuírem para aliviar o estresse e a ansiedade de quem tem uma rotina intensa de estudos, o esporte e os exercícios físicos ajudarão a conquistar um melhor condicionamento físico, que pode beneficiar lá na frente, na hora de realizar os exames, inclusive.


– Trabalhar os músculos e ganhar tônus ajuda a evitar problemas mecânicos que a pessoa teria, como dor nas costas, pescoço e braços. Por isso, pode ser uma boa estratégia para estar bem [fisicamente] na hora das provas. E sua mente estará melhor se o seu corpo estiver melhor. Um corpo mais exercitado deixa a mente mais aguçada e preparada para esse desafio – completa.


Para acertar na dose

Nessa reta final de preparação para as provas do Enem, ninguém quer correr o risco de colocar toda a dedicação a perder. No entanto, o psicólogo pondera que, embora estudar seja importante, essa atividade não pode ocupar todas as 24 horas do dia de quem está estudando para o concurso. Segundo Caminha, essa é a antítese do bom desempenho.


– Em alguns casos, pode dar certo e o estudante passar. Mas também já atendi muitos pacientes que ficaram extremamente estressados e desenvolveram alopecia, gastrite e depressão depois dessa estafa emocional. Não quer dizer que essa é uma relação de causa e efeito, mas há uma correlação – observa.


  1. Caso você já faça exercícios físicos ou esportes, mantenha-os;

  2. Se esteve mais parado e sedentário nos últimos tempos, comece pelo básico: não há contraindicação para incluir atividades mais leves, como caminhar, nadar ou pedalar, ou mesmo entrar numa academia com orientação e evolução gradual. O que não dá é para, de uma hora a outra, sair do sedentarismo ou de atividades mais leves para ingressar em uma rotina de exercícios muito intensa. Por isso, conte com um programa de treinamentos prescrito por um profissional, para evitar que os exercícios acabem gerando um cansaço excessivo;

  3. Considere incluir caminhadas no seu dia, para ajudar a relaxar a mente;

  4. Caso prefira esportes coletivos, opte por eles. Melhor ainda se praticá-los com pessoas de que gosta. Assim, além da liberação dos hormônios do bem-estar associados à prática de esportes, terá os benefícios ainda da ocitocina para a redução do estresse;

  5. Procure não exagerar. O exercício precisa fazer parte da sua rotina, mas compondo a sua programação e sem mexer muito na dinâmica das 24 horas que você tem, que, não se esqueça, precisam incluir ainda o tempo para descanso. Respeite os limites do seu corpo e mente;

  6. Procure dedicar alguns minutos ao longo do seu dia para alongar o seu corpo. Realize movimentos para soltar o pescoço, a coluna e a lombar, além de braços e pernas. Esse cuidado também é importante para ajudar a encarar as horas de estudo e prova.

Páblius Staduto Braga reforça que os exercícios físicos devem fazer parte da rotina de qualquer pessoa, e isso não exclui quem está se preparando para o Enem. De acordo com o médico, nessa reta final, se o estudante está habituado a fazer exercícios físicos, deve mantê-los. Quem ficou mais parado, apenas estudando, também deve dedicar um tempo aos exercícios físicos. Contudo, deve respeitar sua aptidão física e não querer incluir esportes a todo custo na tentativa de estar mais preparado física e mentalmente para as provas no final do mês.


– Exercícios mais leves ajudam a descansar cabeça e sair da rotina. Dependendo da capacidade da pessoa, dá para explorar mais, caminhando ou pedalando mais rápido, por exemplo, sem ficar exausto. A pessoa deve sentir a respiração modificando, ficando um pouco mais ofegante, e o corpo aquecendo e suando. Esses são sinais de que está usando o corpo. Só deve ter cuidado para não passar do limite e querer, por exemplo, correr, se não corre há muito tempo, pois há o risco de ter dor e lesão. Mas também não impede que entre em uma academia agora, só é importante ter um esquema de treinamento, alimentação e sono, pois quando se inclui exercício altera-se essas dinâmicas. O exercício precisa agregar e compor o horário, e não fazer a pessoa se cansar mais – detalha o médico do esporte.


Se você ficou mais parado nos últimos meses, quer incluir exercícios físicos na sua rotina porém ainda tem receio de errar na dose, o psicólogo acrescenta que uma boa caminhada não terá contraindicações. Pelo contrário, é altamente recomendada. Conforme afirma Renato Caminha, os efeitos vão além dos ganhos físicos.


– É comprovado cientificamente que, ao fazer caminhadas despretensiosamente pela rua, há um direcionamento ocular para vários estímulos e essa movimentação ocular ajuda na resolução de problemas. Quando se diz que se resolve problemas caminhando, é verdade. Andar na rua ajuda a relaxar o pensamento e tem efeito quase meditativo. É importante que quem está nesse processo (de preparação para a prova do Enem) saia à rua, caminhe, interaja com outras pessoas e se alimente bem – completa o psicólogo.


Fontes: Páblius Staduto Braga é médico do esporte especialista pela Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte e pela Associação Médica Brasileira (SBMEE/AMB) e com especialização em reumatologia pela Unifesp e clínica médica pela PUC-SP. Foi vice-presidente da Sociedade Paulista de Medicina do Exercício e do Esporte (SPAMDE) e editor associado da Revista Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte. É diretor do laboratório de ergoespirometria e calorimetria indireta do Hospital Nove de Julho.


Renato Caminha é psicólogo mestre em Psicologia Social e da Personalidade pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), terapeuta cognitivo e doutorando na Universidade do Algarve. É professor pesquisador na área de Psicoterapias Cognitivas na Infância, Transtorno do Estresse Pós-Traumático, Prevenção em Saúde Mental e Educação Socioemocional e professor convidado do Mestrado da Universidade Autônoma de Barcelona. Autor e coautor de obras na área das Terapias Cognitivas, é membro-fundador da Federação Brasileira de Terapias Cognitivas (FBIC), diretor do Instituto TRI de Educação Socioemocional e presidente do Congresso Brasileiro de Terapias Cognitivas da Infância e Adolescência, além de sócio e diretor de Ensino do InTCC-Brasil, voltado para ensino, pesquisa e atendimento individual e familiar.




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