top of page
Foto do escritorPablius Staduto

Epidemia de maus hábitos: veja as maiores causas de morte de 2000 a 2019

No topo da lista divulgada pela OMS, aparecem as doenças cardíacas. Médico do esporte e cardiologista indicam como evitar esses e outros problemas crônicos com mudança de estilo de vida.



A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou recentemente as estimativas sobre morte e morbidade no mundo entre 2000 e 2019, num mundo pré-Covid-19. Dentre as dez causas de óbitos mais prevalentes globalmente em 2019, sete são doenças crônicas não transmissíveis. Possivelmente houve mudanças nesse ranking no último ano, com a chegada do novo coronavírus, mas todas essas doenças seguem matando ou piorando a qualidade de vida daqueles que sofrem com elas. Os problemas cardíacos figuram como o principal motivo de morte no período avaliado. O que chama a atenção é o crescimento do número de pessoas que morreram em função de enfermidades do coração: em 2019, foram 9 milhões de casos, o equivalente a 16% das mortes, enquanto que, em 2000, as doenças cardíacas responderam por 2 milhões de óbitos. Um aumento de quase cinco vezes. Aparecem nessa lista da OMS ainda acidente vascular cerebral (AVC), doença pulmonar obstrutiva crônica e câncer na traqueia, brônquios e pulmão. O diabetes também passou a integrar as dez principais causas de óbito no mundo: em 2019, foi registrado um aumento de 70% nos casos em relação a 2000. Além disso, a Organização Mundial da Saúde alerta que houve um aumento na expectativa de vida no período, porém com uma redução dos anos vividos com qualidade.

As Estimativas Globais de Saúde de 2019 evidenciam a importância dos cuidados de saúde primários para prevenir, diagnosticar e tratar as doenças crônicas, medida que também é necessária nesse cenário de pandemia, já que indivíduos com doenças preexistentes podem ter mais risco de complicações e morte por Covid-19. Portanto, para analisar esses dados sobre morte e incapacidade decorrentes de doenças crônicas, o EU Atleta conversou com o médico do esporte Páblius Staduto Braga e o cardiologista Fernando Bassan. Eles evidenciam que a prevenção desses males, bem como o seu tratamento e enfrentamento de complicações após eventos como infarto e AVC, por exemplo, dependem da mudança na relação com fatores de risco modificáveis, com aa adoção de um estilo de vida saudável que inclua atividades e exercícios físicos e alimentação saudável, entre outros cuidados.

O médico do esporte observa que, no período considerado no levantamento da OMS, a medicina evoluiu, permitindo mudar muitas histórias. Afinal, como exemplifica Páblius Staduto Braga, procedimentos cirúrgicos, como para desobstrução de artéria, assim como o tratamento do câncer e do diabetes, melhoraram muito nesses 20 anos. O médico pondera ainda que não se tem acesso a dados mais detalhados sobre esses óbitos. Entretanto, como tratam-se de doenças não transmissíveis, silenciosas e que sofrem influência dos hábitos de vida da população, são dados expressivos e que inspiram atenção. Para Braga, as pessoas precisam olhar para esses números e reconhecer que, embora estejam entre as principais causas de morte, esses problemas crônicos podem ser prevenidos caso passem a cuidar de sua saúde e a adotar melhores hábitos.


– Esse é um tema sobre o qual voltou a se falar muito nos últimos cinco anos. Mas a mudança desse hábito é cultural. No caso da dieta, as pessoas se habituaram à rapidez de comprar o alimento pronto e os preços dos ultraprocessados caíram, facilitando a compra e o armazenamento. As pessoas também consideram que não precisam ir ao médico porque não sentem nada e entendem isso como ausência de doença. Mas essas doenças mais comuns e não transmissíveis, como pressão alta e diabetes, entre outras, afetam um bom percentual da população que, como não nota sintomas, segue sem tratamento – analisa o médico do esporte, que também é especialista em reumatologia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e em clínica médica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).


Cardiologista do Instituto Nacional de Cardiologia e do time de futebol do Flamengo, Fernando Bassan acrescenta outros dados. Segundo o médico, quando consideradas todas as doenças cardiovasculares, estima-se que sejam responsáveis por cerca de 30% de todos os óbitos no mundo. No Brasil, o médico comenta que, anualmente, cerca de 300 mil pessoas morrem em decorrência desses problemas. Isso corresponde, em média, a um óbito a cada dois minutos. Para Bassan, esses números, assim como aqueles divulgados pela OMS, apontam para o que ele chama de uma epidemia de comportamentos ruins.

– O estilo de vida atual aumenta a incidência de doenças crônicas. As pessoas estão mais obesas, diabéticas e com mais doenças cardiovasculares. E essas não são doenças infecciosas. O que faz elas aumentarem não é um vírus, mas uma epidemia de maus comportamentos, de sedentarismo, alimentação ruim, com consumo de alimentos pré-prontos, de tabagismo – alerta o cardiologista.

Não perca tempo: mantenha-se ativo! Braga afirma que a prevenção das doenças crônicas não transmissíveis passa pela inclusão de mais movimento no dia a dia. Considerando que a pandemia de Covid-19 ainda requer que se mantenha o distanciamento social, o médico do esporte comenta que cada pessoa deve considerar o que é possível fazer nesse momento. O que está fora de cogitação é deixar de praticar exercícios físicos.


– Isso é importantíssimo. Não pare de se exercitar. Faça aulas on-line, mesmo que esteja longe do que você gostava de fazer, como frequentar uma academia. Faça o que é possível para reduzir o risco dessas doenças. Você também conseguirá administrar melhor a presença desses problemas com os exercícios. O desfecho dessas doenças é melhor com maior resistência e força muscular. Se a pessoa perde força e mobilidade, fica mais exposta e a gravidade dessas doenças será maior. A própria atuação dos medicamentos é prejudicada. Os exercícios também diminuem os riscos de efeito colaterais das medicações – enumera o médico do esporte, que é diretor do laboratório de ergoespirometria e calorimetria indireta do Hospital Nove de Julho.

Além de praticar exercícios físicos em algum momento do dia, Braga lembra que é necessário manter-se ativo nas demais horas e procurar evitar comportamentos sedentários. Nesse sentido, o médico do esporte lembra que, recentemente, a OMS revisou suas recomendações e lançou novas diretrizes para a prática de atividades físicas. Agora, no caso dos adultos, a orientação é realizar ao menos 150 a 300 minutos semanais de atividades aeróbicas moderadas a vigorosas ou 75 a 150 minutos daquelas que sejam mais fortes. Vale ainda optar por uma combinação dessas diferentes intensidades ao longo das semanas.

– Quanto mais se movimentar, menores serão os riscos. Aqueles 20 minutos de caminhada, quando a pessoa sai para almoçar e volta para o trabalho, contam. Até o exercício voltado para o condicionamento físico é melhor aproveitado quando a pessoa se movimenta. Passar muito tempo sentado é um mal do último século e é preciso chamar a atenção para a perda muscular, principalmente a partir dos 40 anos, quando se perde massa muscular por não usá-la. Se não for possível se movimentar durante o dia inteiro, procure se mexer durante a maior quantidade de minutos – recomenda Páblius Staduto Braga.

O cardiologista comenta que há uma preocupação em se estabelecer a dose ideal de atividade física e que essa recomendação da OMS é uma das sugestões nesse sentido. O médico afirma que é um fato que, quanto mais exercícios e movimento a pessoa incluir no seu dia, melhor. Se conseguir movimentar-se por 300 minutos semanalmente, ótimo. Contudo, Fernando Bassan chama a atenção para quando o indivíduo não consegue alcançar essa meta. É preciso ter em mente, nesses casos, que isso está longe de ser um motivo para desanimar, muito menos para parar de se mexer. Até porque, quando decidir retomar essa movimentação no dia a dia, o cardiologista comenta que será mais difícil, pois a pessoa terá fraqueza muscular e também notará a perda de amplitude de movimento. Para evitar essa conduta, que é bastante comum, segundo Bassan, ele compartilha as suas duas máximas.


– Qualquer coisa é melhor do que nada. E nunca é tarde para começar. Quem faz atividades físicas há mais tempo e com mais intensidade, terá um benefício maior. Mas para as pessoas que nunca fizeram ou que tiveram um AVC, por exemplo, nunca é tarde para começar. Se a pessoa não consegue chegar nessa meta [de 300 minutos semanais], qualquer coisa é melhor do que nada. Mesmos os 150 minutos de atividades físicas por semana, regulamente, já estão muito bons. O importante é ter rotina, frequência e sustentabilidade – discorre o médico, acrescentando que a quarentena imposta pela Covid-19 reduziu muito o tempo de atividades físicas e que é preciso aumentar essa mobilização diária. – Use as escadas de vez em quando ou ande um pouco mais. Isso é um adicional, mas que ajuda muito as pessoas a terem hábitos mais saudáveis, melhorarem o peso, a pressão e o colesterol e ganharem aptidão física.


Ainda no que diz respeito à pandemia de Covid-19, o médico do esporte comenta que a doença causada pelo novo coronavírus trouxe mudanças para a vida e a rotina das pessoas, enquanto que os efeitos do SARS-CoV2 sobre a saúde dos pacientes ainda vêm sendo conhecidos. Braga destaca que a perda de treinamento em função do tempo parado por causa da necessidade de distanciamento social e as evidências de que o vírus afeta as células cardíacas não podem ser ignorados. Por isso, considera que realizar uma avaliação médica é fundamental para retomar os exercícios, caso o indivíduo tenha ficado parado nesse período, ou iniciar essa prática para valer, quando se é mais sedentário.


– Esqueça o que acontecia de fevereiro de 2020 pra trás. A movimentação física diminuiu muito no último ano e este ano precisamos fazer as pessoas voltarem. É preciso ter essa avaliação médica para saber por onde a pessoa pode ir e o que não pode fazer. O médico levantará esses pontos, que serão individualizados. É preciso separar, por exemplo, o que é consequência da doença [Covid-19] e do sedentarismo. As estratégias serão diferentes e esse check-up é importantíssimo – alerta o médico do esporte.

Viver mais e melhor

Ainda conforme as Estimativas Globais de Saúde de 2019, as pessoas passaram a viver mais, porém com menos qualidade. A média global de idade era de cerca de 73 anos em 2019, enquanto que, em 2000, alcançava a marca de 67 anos. Entretanto, segundo a OMS, somente cinco desses seis anos adicionais foram vividos com boa saúde. Os números indicam que doenças crônicas que causaram mais mortes no período resultaram também no aumento das incapacidades. Juntos, problemas cardíacos, diabetes, AVC, câncer de pulmão e doença pulmonar obstrutiva crônica foram responsáveis por quase 100 milhões de anos de vida saudáveis adicionais perdidos em 2019, em comparação com 2000. Além de evidenciar que trata-se de um número alarmante, Páblius Staduto Braga observa que as atividades físicas e outros hábitos saudáveis poderiam prevenir essas incapacidades, e não apenas o desfecho letal decorrente das doenças crônicas.

– Com o envelhecimento da população, é preciso chamar a atenção para a importância da movimentação. Isso precisa ser frisado o tempo todo. Se a pessoa se movimenta bem, se alimenta adequadamente e melhora a qualidade do sono, seu resultado será bem melhor, mesmo que tenha essas doenças crônicas – assegura o médico do esporte, emendando que, em relação à alimentação, vale procurar evitar os ultraprocessados, que têm baixa qualidade nutricional, consumindo mais alimentos in natura e preparando mais comida em casa. – Tente cozinhar mais. Aproveite esse momento mais em casa para experimentar – encoraja.

Bassan endossa que, ao manter uma rotina de atividades físicas, controlar o peso, dormir bem, não fumar e adotar uma alimentação equilibrada, é possível envelhecer com mais saúde. Esses hábitos são conhecidos fatores para se manter uma boa qualidade de vida, bem como preservar a senilidade e a mobilidade em idades mais avançadas, de acordo com o médico. Mesmo quando recebe o diagnóstico de alguma doença crônica ou após algum evento ou complicação decorrentes dessas enfermidades, o cardiologista comenta que esses comportamentos impactarão positivamente no quadro desses pacientes.

– As pessoas acham que a vida delas acabou porque tiveram um infarto. Mas eu falo para o paciente: se sobreviveu a um infarto e tiver mudanças no estilo de vida e atender a um programa de reabilitação cardíaca, que nada mais é do que controlar a dieta e o peso e fazer atividade física de forma permanente, combatendo o sedentarismo, pode ser mais saudável hoje, no pós-infarto, do que antes. Essas pessoas que atendem a um programa de reabilitação cardíaca depois de um infarto ou AVC mudam o seu prognóstico. As chances de morrerem ou terem um novo evento reduzem de 50% a 70%. Esses hábitos fazem parte da prevenção, mas quando a pessoa não os adota para prevenir [as doenças cardiovasculares], farão parte do tratamento, que não passa só por medicação. Mesmo o remédio terá um efeito melhor se o paciente for fisicamente ativo, adotar uma alimentação adequada e controlar o peso – reitera o cardiologista.




1 visualização0 comentário

Comments


bottom of page